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Ciência, Tecnologia e Inovação a Serviço da Sociedade e da Indústra Brasileira de Alimentos
concentrado para o contexto brasileiro permitiu agregar valor à
nossa laranja e acabou por colocar o Brasil em um patamar de
liderança no comércio internacional do suco”, afirma.
Desde então o ITAL se consolidou como um dos impor-
tantes centros de pesquisa sobre laranja. Em seus cinquenta
anos de existência, o Instituto é uma referência nessa área, no
Brasil e no mundo. Um dos destaques no conjunto de traba-
lhos que o ITAL vem desenvolvendo foi a pesquisa sobre utili-
zação do bagaço de cana para gerar energia para a fabricação
de suco concentrado de laranja em São Paulo, estratégia fun-
damental para manter a produção competitiva em um cenário
mundial de alta dos preços do petróleo.
No início dos anos 1980, a alta internacional dos preços
do petróleo agravava ainda mais a recessão econômica que
afetava o Brasil. Antecipando os problemas gerados pela de-
pendência da economia brasileira em relação aos combustí-
veis fósseis, em 1979, o presidente João Batista Figueiredo
anunciou o congelamento das importações de petróleo e criou
o Conselho Nacional de Energia, composto por oito ministé-
rios e mais os presidentes do Conselho Nacional de Petróleo,
da Petrobras e da Eletrobrás e representantes da academia.
Também a partir daí, o governo intensificou os programas de
pesquisa e investimento em fontes energéticas alternativas. O
Proálcool surgiu exatamente nesse contexto.
Dentre os programas para reduzir o consumo e a depen-
dência em relação ao petróleo, o governo federal passou a
pressionar as indústrias de suco para que reduzissem (ou
encontrassem alternativas substitutivas) o consumo do óleo
combustível BPF (sigla para baixo ponto de fluidez) nas cal-
deiras das fábricas de processamento de suco concentrado de
laranja. Algumas empresas entraram em contato com a equi-
pe de engenharia do ITAL, que já trabalhava com esse tema,
buscando uma alternativa para diminuir o consumo desse óleo
que é derivado do petróleo.
O óleo BPF é utilizado em equipamentos destinados à ge-
ração de energia térmica. Sua função é produzir calor e, por
isso, no processo de fabricação de suco concentrado de laran-
ja ele é utilizado nas caldeiras que fornecem vapor para aque-
cer o suco na etapa de evaporação. Os engenheiros do ITAL
fizeram um mapeamento das indústrias de processamento no
estado de São Paulo e perceberam que muitas delas esta-
vam próximas às usinas de cana-de-açúcar. “Surgiu a ideia
de utilizar o bagaço de cana como combustível, para gerar
energia para aquecer as caldeiras das indústrias de suco de
laranja. Diferentemente de hoje, o bagaço era descartado pela
indústria da cana”, conta o Rogério Tocchini. De acordo com
ele, foi a Fundepag que financiou o estudo. Naquela época,
Tocchini era assessor técnico do diretor geral do ITAL e diretor
da Fundepag. “Por isso eu participei das reuniões com as in-
dústrias e, quando o estudo foi concluído, foi repassado para
as empresas e implantado naquelas para as quais era viável
a utilização do bagaço de cana como combustível no lugar do
óleo combustível BPF.”
O trabalho de pesquisa que resultou no uso de bagaço
de cana na substituição do óleo combustível, queimado nas
caldeiras das indústrias de suco concentrado, foi “Estudo do
consumo e conservação de energia em uma unidade indus-
trial de suco de laranja concentrado congelado”, dissertação
apresentada em 1982 por José Gasparino Filho, da equipe
de engenharia do ITAL, na Escola Politécnica da USP, para
obtenção do mestrado em engenharia de alimentos.
Suco de laranja em lata produzido pelo ITAL
nos anos 1970