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1963 - 1983
No início da década de 1970 um moderno parque fri-
gorífico se instalou no país, com vistas à exportação de
carne (TIRADO et al., 2008). Esses frigoríficos gerencia-
ram o estoque regulador e passaram a barganhar com os
pecuaristas por preços que fossem mais convenientes,
com vistas a aumentar o lucro nos seus negócios. Novos
frigoríficos, de capital nacional principalmente, foram
instalados no país, ampliando a oferta de carne no mer-
cado. Os antigos matadouros deram lugar a esses novos
estabelecimentos, consolidando a atividade de abate ani-
mal em um segmento agroindustrial.
Neste contexto, novas estruturas de sanidade animal fo-
ram exigidas. A partir de 1972 o país passou a contar com a
federalização da inspeção sanitária, que reforçou e difundiu
os avanços técnicos no setor, inclusive a utilização do frio
para conservação (resfriamento e congelamento) e a padroni-
zação das linhas de abate (IPARDES, 1989).
O desenvolvimento da linha de industrializados cárneos e a
intensificação da avicultura e suinocultura como setores indus-
triais colocaram os três segmentos de forma competitiva no mer-
cado (IPARDES, 1989). Não se mostrando alheio a esse mer-
cado, sem dúvida, promissor para o Brasil, em agosto de 1974
foi assinado um convênio entre o ITAL e a Embrapa (Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária), visando à implantação
do “Centro Nacional de Pesquisa e Treinamento de Pessoal em
Tecnologia de Carne”, o qual recebeu recursos da esfera federal
para a criação da Usina-Piloto de Carnes e Derivados.
A atividade de pesquisa em carnes já havia sido anun-
ciada pelo ITAL em 1970, quando foram definidas as áreas
de atuação das diversas seções, sendo uma delas a Seção
de Carnes e Derivados. As atribuições dessa unidade com-
preendiam desde o estudo de matérias-primas utilizadas
por esse setor industrial, passando pelo desenvolvimento
de técnicas adequadas para o processamento de carne e
derivados, estudo de novos produtos e aproveitamento de
subprodutos, além de colaboração com o ensino e aperfeiço-
amento de pessoal técnico.
Entretanto, como nas demais situações de implantação
de uma nova unidade de pesquisa e desenvolvimento, não se
dispunha de um corpo técnico especializado para atuar na
área. A infraestrutura do novo centro também não estava dis-
ponível, o que levou o governo a transferir da Coordenadoria
de Assistência Técnica Integral (Cati) o engenheiro agrônomo
Arlindo Borba de Oliveira (lotado na Seção de Grandes Ani-
mais da Divisão de Zootecnia da Cati) para o ITAL, como res-
ponsável pela implantação da Seção de Carnes e Derivados.
A primeira medida foi enviar o novo responsável pelo setor
para os estados produtores, com o objetivo de analisar a situ-
ação da indústria de carne do país e poder, assim, estabelecer
um programa de pesquisa na área. Oliveira viajou para o Rio
Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais e Goiás.
Em seguida, dentro do convênio com a FAO e apoio financeiro
do Fundo Especial das Nações Unidas foi contratada a dina-
marquesa Wernberg & Cia para prestar consultoria à Seção
de Carnes e Derivados para complementar essa avaliação da
indústria de carnes brasileira.
A partir desse diagnóstico, foi possível elaborar um pla-
no de trabalho para o setor. Em seguida, a demanda era de
organizar uma equipe técnica, capaz de auxiliar no planeja-
mento e acompanhamento de uma usina-piloto e das demais
dependências destinadas à pesquisa e desenvolvimento em
tecnologia de carnes e derivados. Em se tratando de um novo
campo de atuação do ITAL, a ideia era contratar pessoal téc-
nico e promover capacitação suficiente para a condução de
um programa de pesquisas inovadoras, que ajudasse a desen-
volver a indústria brasileira.
Foram contratados 3 engenheiros de alimentos e 1 mé-
dico veterinário para atuar na área que, obedecendo as mes-
mas diretrizes quando da implantação do ITAL, seguiram para
universidades do exterior, onde houvesse grupo de destaque
em ensino e pesquisa em tecnologia de carnes, para realizar
a pós-graduação. Uma vez que o objetivo era também adqui-
rir experiência em diferentes áreas da tecnologia de carnes,
os focos de estudos foram: efeitos do frio na conservação da
carne, produtos processados de carne e técnicas de abate e
processamento. Em pouco tempo, outros 3 profissionais fo-
ram incorporados à equipe.
O próprio Arlindo Borba de Oliveira realizou sua pós-
graduação na Universidade de Nottingham, com bolsa
de estudos do Conselho Britânico. Devido a sua posição
Pesquisa e desenvolvimento no setor de carnes