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Ciência, Tecnologia e Inovação a Serviço da Sociedade e da Indústra Brasileira de Alimentos
A primeira farinha láctea que chegou ao Brasil era fabrica-
da por uma grande empresa multinacional e logo caiu no gosto
do consumidor brasileiro, permanecendo durante muito tem-
po como a única opção do mercado. A farinha láctea é uma
mistura de cereais com leite. Além do trigo podem ser adicio-
nados outros cereais, vitaminas e minerais para enriquecer a
farinha, tradicionalmente consumida por crianças em forma
de mingau, mas que pode ser utilizada em todas as idades em
sucos e vitaminas de frutas, por exemplo.
Em 1992, uma empresa da área de laticínios, buscan-
do diversificar sua linha de produtos, procurou a Divisão de
Processamento de Alimentos, do ITAL, para desenvolver um
produto similar à farinha láctea. “Tínhamos um cenário de
crescimento do mercado consumidor e esses empresários,
com visão inovadora, avaliaram que era o momento certo de
desenvolver uma nova opção de farinha láctea, que utilizasse
tecnologia nacional”, conta Maurício Aguirre, engenheiro de
alimentos, atualmente pesquisador do Fruthotec, que coorde-
nou o projeto na época.
Foi utilizado um equipamento chamado drum dryer, cuja
secagem resulta em um produto na forma de flocos, caracte-
rística de farinhas como a láctea. “Era um equipamento caro,
importado, mas que estava disponível no ITAL para esse tipo
de parceria com a indústria de alimentos”, explica Maurício.
Por conta disso, foi possível desenvolver uma farinha láctea
similar ao produto com tecnologia estrangeira, preservando o
valor nutritivo e as demais características.
O diferencial tecnológico foi utilizar enzimas para quebrar
as cadeias de amido do trigo. O resultado foi a obtenção de
uma farinha com textura mais cremosa, mais leve. Ao prepa-
rar mingaus e outros alimentos, a farinha é mais facilmente
reconstituída, sem grumos. Com um trabalho de quase um
ano, conseguiu-se aprimorar a tecnologia existente e oferecer
um produto de qualidade tão boa ou até melhor do produto
similar do mercado.
O ITAL também fez o projeto completo para instalação da
unidade industrial de produção da farinha láctea. “Foi feita a
importação do equipamento drum dryer (secador de tambor)
e sua implantação no laticínio, em São Paulo. Orientamos o
ciclo completo da inovação tecnológica, desde a preparação
do produto até a planta industrial”, destaca Maurício. A fari-
nha láctea nacional teve grande penetração no mercado, por
ser um produto similar ao conhecido pelos consumidores, mas
com preço mais baixo, já que incorporava tecnologia nacional,
desenvolvida no ITAL.
O sucesso da farinha láctea abriu um novo mercado para a
empresa que, antes, estava restrita à produção e comércio de
laticínios tradicionais (leite e derivados). O resultado positivo
fez com que o laticínio criasse, com a ajuda do ITAL, uma li-
nha de produtos à base de cereais, como milho, cevada, aveia
etc., todos utilizando a tecnologia drum dryer. “Ajudamos a
empresa a inovar, atender a preferência do consumidor brasi-
leiro, dando um tom ‘verde amarelo’ a um produto estrangei-
ro”, finaliza o engenheiro.
Farinha láctea brasileira:
parceria na inovação empresarial
A Mococa foi uma das empresas que passaram a
produzir a farinha láctea nos anos 1990