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2014-2063
No Brasil, o setor de alimentos, bebidas e embalagens
consolidou-se, nos últimos anos, como um dos mais relevan-
tes para a economia nacional. Segundo a Pesquisa Industrial
Anual, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,
2010b), tem crescido a cada ano – 2007 (9,2%), 2008 (9,9%)
e 2009 (11,7%) – a participação do setor na indústria brasi-
leira. Na última pesquisa, realizada em 2010, a fabricação de
produtos alimentícios liderou as atividades industriais (com
12,1%), superando a indústria de coque, produtos derivados
do petróleo e biocombustíveis (que ficou em segundo lugar),
e a indústria de veículos automotores, reboques e carrocerias
(terceiro lugar). Vale lembrar que, segundo o IBGE, o setor de
alimentos é o que mais gera empregos no país.
Há ainda a expectativa, segundo o Fundo das Nações
Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), de que o Brasil
venha a atender cerca de 40% do incremento da demanda
por alimentos do mundo nos próximos anos, segundo dados
divulgados pelo Fórum do Futuro (TOKARNIA, 2012).
Tal relevância, nacional e internacional, do setor alimentí-
cio brasileiro, deve-se ao fato deste ser muitíssimo organiza-
do. Esta é a perspectiva de Carlos Vogt (2012) – coordenador
do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (LabJor)
da Unicamp, presidente da Universidade Virtual do Estado de
São Paulo (Univesp), ex-reitor da Unicamp e ex-presidente da
Fapesp –, ao ressaltar que as alterações nos processos pro-
dutivos e de comercialização, no Brasil, vieram alicerçadas e
acompanhadas por políticas que apoiaram o setor agrícola e
alimentício. Foi o fato de termos uma história de pesquisa e
desenvolvimento voltado para esse setor que criou as condi-
ções necessárias para todas essas transformações, e para a
participação do país nessas transformações de modo ativo.
Um setor organizado e competente criou condições para que
se instalasse no Brasil uma indústria agropecuária e alimen-
tícia com fundamentos em pesquisa e desenvolvimento. Uma
indústria que tem como base institutos como o ITAL, que de-
senvolveu e desenvolve um conjunto de atividades de Pesqui-
sa, Desenvolvimento & Inovação (PD&I) capaz de reorientar as
políticas públicas e promover maior competitividade do setor:
“Trata-se de um setor que desenvolveu ações extremamente
consequentes e coordenadas, fazendo com que o país atingisse
um estado de alta competitividade no cenário, não só nacional,
mas internacional. E a posição brasileira atual na produção de
alimentos, bebidas e embalagens, deve-se ao trabalho desen-
volvido por instituições como o ITAL”.
A criação do Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL),
há 50 anos, está ligada à percepção de que grandes trans-
formações no cenário nacional e internacional ocorreriam no
setor de alimentos, bebidas e embalagens, para os quais o
Brasil e, mais especificamente, o estado de São Paulo, tinha
que estar preparado. Preparo este que pode ser condensado
em três palavras-chaves: inovação, ciência e tecnologia.
O que o estado de São Paulo fez ao criar o ITAL e os
demais institutos da Agência Paulista de Tecnologia dos Agro-
negócios (Apta)
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foi antecipar um cenário industrial em que a
ciência e tecnologia desempenhariam um papel fundamental.
Junto com outros institutos da Apta, bem como as faculda-
des – como a Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA),
da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) – o ITAL
foi criado para desenvolver soluções científicas e tecnológicas
para os problemas que afligiam a população e a indústria para
enfrentar os desafios colocados pela crescente industrializa-
ção, o aumento populacional, a globalização dos mercados,
as crises econômicas e as intensas mudanças culturais que
aconteceram neste meio século de sua existência.
Em relação aos desafios trazidos pelas transformações
econômicas, sociais e políticas recentes, não se pode menos-
prezar aqueles que a crise econômica mundial coloca para o
Brasil. A questão é que o país não pode manter sua posição
relativa no contexto internacional apenas como provedor de
recursos naturais e insumos industriais. Um dos desafios que
se coloca para o Brasil no futuro, e para instituições como o
ITAL, é o de incentivar uma indústria capaz, cada vez mais,
de agregar ciência e tecnologia aos alimentos, em vez de expor-
tá-los como simples commodities.
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Sobre a criação da Apta no ano de 2000, veja-se o capítulo anterior sobre o
período 1995-2013 da história do ITAL.
Cenário nacional da indústria de alimentos,
bebidas e embalagens