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Ciência, Tecnologia e Inovação a Serviço da Sociedade e da Indústra Brasileira de Alimentos
O setor de alimentos, bebidas e embalagens é considerado,
internacionalmente, um campo estratégico para o desenvolvi-
mento econômico e social, na medida em que atravessa dife-
rentes áreas como segurança alimentar e abastecimento da po-
pulação; saúde pública e nutrição; geração de emprego e renda;
consumo; inovação e desenvolvimento do sistema de C&T. Essa
transversalidade tem estimulado os governos da União Euro-
peia, Reino Unido, Bélgica, França, Irlanda, Canadá, Austrália,
Chile e China a elaborar políticas públicas e programas estraté-
gicos específicos para o setor (MADI; REGO, 2012).
Tais governos acreditam que a construção de uma visão
de futuro encontra-se intimamente atrelada à elaboração e
desenvolvimento de políticas nacionais. Plataformas tecnoló-
gicas, planos e programas são formulados a partir de pesqui-
sas, estudos e avaliações sobre as diversas áreas do setor de
alimentos, a serem discutidas com diferentes stakeholders:
representantes governamentais e da indústria, instituições de
pesquisa e sociedade civil. A partir dessa ação integrada é que
são estabelecidos acordos de cooperação, projetos de pes-
quisa, desenvolvimento e inovação, capacitação profissional
e reformas para o sistema regulatório (MADI; REGO, 2012).
O que se nota é que, ao visar o incremento da competi-
tividade do setor de alimentos e bebidas no mercado global,
alguns temas são recorrentes nas estratégias de inovação des-
ses diferentes governos: uma visão sistêmica que norteia uma
política de longo prazo abrangendo toda a cadeia produtiva;
uma atuação em rede buscando integrar governo, indústria,
universidades, institutos de pesquisa e organizações não-go-
vernamentais; a preocupação com a saúde pública e a se-
gurança de alimentos; investimentos em ciência, tecnologia
e inovação (C,T&I) com o intuito de favorecer a criação de
produtos e processos com maior valor agregado; a moderniza-
ção do sistema regulatório buscando equilibrar a preocupação
com a segurança de alimentos e a competitividade da indús-
tria (MADI; REGO, 2012).
Nos diferentes diagnósticos realizados com o intuito de
definir e implementar políticas para a indústria de alimentos,
o que se observa, ainda, é a estratégia de explorar as diferen-
ças culturais e regionais, a partir do incentivo às pequenas
e médias empresas. Por isso, União Europeia e países como
Canadá, Austrália, Índia e Chile têm investido na formação de
clusters regionais, nos quais institutos públicos de pesquisa
têm tido um papel de relevância (MADI; REGO, 2012).
“O Brasil conseguiu um desenvolvimento fantástico na
produção de alimentos, talvez o melhor já conseguido no mun-
do. Quanto ao processamento de alimentos, isto é, a agre-
gação de valor pelo processo de industrialização, estamos
ainda numa fase emergente. Atualmente, muitos países têm
como estratégia a elaboração de um plano nacional para o
setor de alimentos e bebidas com foco específico no pro-
cessamento, exatamente o que precisamos fazer no Brasil”,
afirma Luis Madi.
Ao pesquisar o Fraunhofer Innovation Clusters do Instituto
Fraunhofer, na Alemanha; a Common Wealth Scientific and In-
dustrial Research Organisation (CSIRO) e o National Flagship
Program, na Austrália; e projetos coordenados pelo Korea Ad-
vanced Institute of Science and Technology (Kaist), na Coreia
do Sul, Luciana Oliveira Telles destaca o papel dessas insti-
tuições como indutoras do desenvolvimento tecnológico. Além
disso, tais institutos públicos de pesquisa caracterizam-se por
um elevado índice de financiamento público e pela prática de
cofinanciamento das pesquisas com as empresas. A qualidade
da pesquisa científica, capacidade de gestão e planejamento
e mecanismos de avaliação também ganham destaque nas
atuações das instituições pesquisadas. Segundo Telles:
“A literatura também aponta como a infraestrutura pública
de pesquisa pode ser relevante para os processos de desen-
volvimento tecnológico, por desenvolver a capacidade própria
dos países na produção de ciência e tecnologia, diante de regi-
mes cada vez mais restritivos de propriedade intelectual, além
de apoiarem as empresas no desenvolvimento de tecnologias
mais adequadas à demanda local” (TELLES, 2011).
Cenário internacional da indústria de
alimentos, bebidas e embalagens