ITAL 50 Anos - page 228

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Haverá maior sofisticação dos bens de consumo que não
devem, por isso, deixar de apresentar preços acessíveis. De
modo geral, essa é a exigência, por sua vez, da nova classe
média, que tende a se expandir por conta da possível incor-
poração da demanda reprimida presente na base da pirâmide
social (as classes D e E que ainda não têm acesso ao con-
sumo). Essa incorporação sinaliza um potencial crescimento
do mercado, que deverá se adequar aos gostos e exigências
dessa parcela da população:
“Nas próximas décadas, a influência do segmento BOP
[bottom of the pyramid] poderá ser muito grande, num cená-
rio otimista marcado pela sustentação do crescimento eco-
nômico, continuidade das políticas de distribuição de renda
e aumento progressivo do investimento em educação. Esses
e outros fatores determinarão a maior ou menor ascensão da
base da pirâmide socioeconômica brasileira ao mercado de
bens de consumo. Milhões de novos consumidores poderão
ser incorporados a esse mercado, ampliando a nova classe
média, alavancando ainda mais a demanda e mudando a con-
figuração desse mercado” (SARANTÓPOULOS; REGO, 2012).
Mas a renda não pode ser considerada de forma isolada ao
se traçar um perfil do consumidor brasileiro. É preciso lem-
brar que maiores níveis de renda costumam estar associados
a maiores níveis de educação que, segundo dados das Séries
Estatísticas & Séries Históricas do IBGE (s.d.), vêm aumentan-
do no país. Entre os anos de 1992 e 2007, cresceu o percen-
tual da população com 11 anos ou mais de estudo, enquanto
o número de pessoas sem instrução ou com menos de um ano
de estudo apresentou uma significativa redução. As famílias
que apresentam melhor nível educacional tendem a possuir
maior renda e, por isso, maior poder de compra. A despesa
mensal média das famílias com 11 anos ou mais de estudo
mais do que triplica em relação àquelas com menos de um
ano de estudo (IBGE, 2010a).
A melhoria do nível educacional também tende a ter como
efeito uma maior exigência quanto à qualidade dos produtos
consumidos, por conta de um maior acesso à informação. Cri-
térios como saudabilidade e sustentabilidade passam a ser
considerados nas decisões de compra por parte dos consumi-
dores, fazendo com que hábitos, valores, comportamentos e
estilos de vida passem a redimensionar o setor de alimentos,
ao segmentar o mercado e distinguir ainda mais os perfis de
consumo.
Esse é o caso dos chamados consumidores Lohas (lyfes-
tyles of health & sustainability), preocupados com a manu-
tenção de uma vida saudável e com os impactos do consumo
individual sobre o meio ambiente (GLOBAL LIFESTYLE OF
HEALTH AND SUSTAINABILITY, 2008). Trata-se de um seg-
mento que se caracteriza pelo chamado consumo informado e
consciente: deseja adquirir alimentos produzidos local ou re-
gionalmente, produtos associados ao bem-estar animal, com
embalagens recicláveis e que sejam produzidos por empresas
sustentáveis e socialmente responsáveis (MADI; REGO, 2013).
Ainda em relação à segmentação do mercado de consu-
mo, as atividades do e-commerce também ganham destaque,
evidenciando que a penetração da internet e das redes sociais
provocam impactos sobre os hábitos de consumo da popula-
ção: há desde o interesse em buscar referências sobre novos
produtos – alterando a maneira tradicional de se procurar in-
formação nos dados contidos nas embalagens –; até os efeitos
sobre o varejo e a logística do setor, com o crescimento dos
serviços de delivery, e o intercâmbio cultural possibilitado pela
internet: “A internet também permite a melhor disseminação
cultural, o que, ao lado de experiências efetivas com outras
nações e costumes, graças a viagens de negócios ou mera-
mente turísticas, promove o conhecimento de novos mode-
los alimentícios e nutricionais que passam a influenciar as
preferências dos consumidores no dia a dia” (BRASIL FOOD
TRENDS 2020, 2010).
Além da renda, da educação e dos impactos das tecnolo-
gias de informação e comunicação, as recentes mudanças de-
mográficas também devem ser consideradas. Conjuntamente
com o crescimento populacional
4
, a urbanização
5
e a presença
mais intensa das mulheres no mercado de trabalho
6
, as trans-
formações na estrutura etária e familiar também merecem ser
4
De acordo com projeções demográficas realizadas pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE, 2008), a tendência de crescimento da população
brasileira deverá prosseguir até 2039, apresentando uma tendência de queda
somente para o ano seguinte.
5
A urbanização apresenta um aumento progressivo desde os anos 1980. A
tendência é a concentração em grandes aglomerações urbanas, com a formação
de regiões metropolitanas e megacidades. A região Sudeste, por exemplo, já
concentra 92,92% da população urbana do país, compreendo as três cidades
brasileiras mais populosas: São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. As regiões
e municípios menos saturados apresentariam, por sua vez, capacidade para
absorver moradores da zona rural: potenciais novos consumidores que tenderão
a incorporar hábitos de consumo que caracterizam a vida urbana, como a
necessidade de maior conveniência.
6
Entre 1998 e 2008, a participação das mulheres no mercado de trabalho cresceu
de 42% para 47, 2% (IBGE, Síntese dos Indicadores Sociais 2009).
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